quarta-feira, 10 de março de 2010

Luiz Carlos - O silêncio

O silêncio

ter, 09/03/10
por luiz.carlos |
categoria Coritiba, Editorial

“Atualmente, vemos um processo continuo de autofagia, principalmente no estado do Paraná. O Coritiba punido injustamente sofre o desconforto do abandono pelas lideranças deste Estado. Os principais culpados pelos fatos lamentáveis e reprovados do dia 06 de dezembro estão soltos e o clube que buscou e apelou pelo socorro do Estado, desgraçadamente foi punido. É a primeira vez que a vitima procura o estado para se proteger e é punida.

Empresários, a classe política, representantes empresariais, entidades de classe, todos devem unir-se em prol a defesa de nosso Paraná. A punição do Coritiba é um descaso ao nosso Estado e a sua coletividade.

Eis a grande questão, pois a falta de união e amor ao Paraná demonstra de forma peremptória a grande verdade. As vozes simplesmente se calam…”

Palavras do vice-presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade, numa coluna no site oficial.

Diz ditado, “Quem cala, consente”.

Justíssima será a decisão de quem também não concordar com a defesa do Coritiba. Não tiro este direito. Isto não me incomoda. O que me incomoda é o silêncio, o faz de conta de que nada se ouve, nada se vê, nada se fala. Isto beira à provocação para uma torcida que se sente sufocada.

Assumir seus posicionamentos, sejam contrários ou favoráveis ao tema, deveria ser uma postura clara das lideranças, dos formadores de opinião. Preferem ficar no faz de conta que não é com eles…

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Nas palavras do vice-presidente do Coritiba, veio à tona um assunto que apresentei a um universitário, Luiz Felipe Monteiro, em 20 de fevereiro, por e-mail, para um questionário relacionado ao título de 1985 do Coritiba.

Vou repetir as perguntas e respectivas respostas. Fica para uma reflexão.

Toco o dedo na ferida. Não quero “briga” com a imprensa, com jogadores, treinadores, dirigentes, torcedores. Quero sim uma reflexão, que serve para todos os envolvidos no futebol do Paraná.

Evidente, só torço pelo Coritiba e me divirto também com a rivalidade. Mas estou muito preocupado, pois o cenário local apresenta uma projeção catastrófica. Saídas do tipo “estádio em comum” não passam de sonho. A situação é péssima, o futuro desanimador, trágico, o cenário paranaense no futebol tende a ser mais frágil a cada ano e em meio século, se não mudar radicalmente, será um coajduvante de quarto escalão.

Ao tocar nas feridas, busco a reflexão de todos os envolvidos no meio do futebol. Se faço certo, se faço errado, não sei, mas quieto certamente não fico…

Eis o questionário.

Qual foi a importância da conquista do título de campeão brasileiro em 1985 para o Coritiba e para o estado Paraná?

Basicamente, a amplitude da conquista pela mídia. A primeira conquista nacional do futebol do Paraná veio em 1973, no Torneio do Povo, na Bahia, algo não tão divulgado devido ao cenário da mídia nacional ter uma amplitude menor. Nos anos 80, a TV ganhou uma força muito maior, se popularizou muito mais.

Houve um momento de quebra de paradigmas no cenário nacional, com um time fora do eixo RJ/SP/MG/RS conquistando o país. Por ter sido pouco aproveitado em termos regionais pelo Coritiba, tanto em termos de marketing, como em termos institucionais e culturais, este fator teve um peso histórico extremamente relevante no cenário regional. Faltou continuidade, sem dúvida (quanto mais intensidade na ampliação e potencialização deste resultado, até devido a queda na caneta, de 1989), mas foi um marco para o esporte paranaense.

Qual foi o principal marco na conquista do título de 1985?

A raça do time durante a temporada e a quantidade de torcedores coritibanos no Maracanã, a maior invasão de torcedores dum time paranaense em todos os tempos.


Em sua opinião, como a imprensa paranaense repercutiu a conquista alviverde? E a imprensa nacional?

Lembro que Rio e São Paulo deram bastante destaque durante a semana. Em que se pese o fato do jogo ter sido numa quarta-feira, o que prejudicaria a divulgação, os principais jornais do Brasil deram um bom destaque. Lembro dum jornal carioca com uma foto da torcida Coxa nas praias de lá, relacionando o “Coxa-Branca”.

Localmente, o tratamento foi fraco. Quase que com ares de “forçado”. Destaque positivo – um dos únicos que me lembro – aquele feito pelo poeta Paulo Leminski, torcedor do time da Baixada.

A imprensa local pecou muito neste sentido. Em vez de explorar o crescimento do futebol paranaense, foi acadêmica, tecnicista. Era um marco para ser mais romanceado. Será que não poderia ser diferente? Não serviria como uma forma de fortalecer as torcidas de times paranaenses? Vínhamos de bons momentos com Londrina, Grêmio Maringá e o time da Baixada em anos anteriores. Culminou com o Coxa. Por ter sido o Coxa, um histórico desafeto da mídia paranaense, mixou…

Qual foi o canal de imprensa que deu maior destaque a conquista?

Creio que foram as rádios.

O que a imprensa poderia ter explorado melhor na cobertura do título de 1985?

Em fortalecer a busca duma identidade paranaense para o esporte, em especial, o futebol. Um bom momento político, uma certa abertura nacional neste segmento, uma participação no ano seguinte num torneio internacional, a Libertadores, o segundo mais importante do mundo. Pouco foi feito de forma consistente para forjar uma nova geração de torcedores locais (de times paranaenses).

Como veículos de massa, uma estratégia de popularização não foi feita. Creio que um pouco de receio de que isto criasse um abismo na rivalidade AtleTiba. De qualquer forma, a rivalidade continuaria e tenderia a fazer o time da Baixada crescer. Não foi feito. Em 89, a fragilidade paranaense no cenário político e esportivo foi comprovada com a canetada da CBF, com uma geração silenciosa contra uma atrocidade à justiça. O silêncio de 89 foi fatídico para o futebol do Paraná. Tanto que logo depois o time da Baixada cairia.

Perdeu-se muito com uma disputa infame, calcada numa certa dose de ódio – velado e disfarçado em ares de politicamente corretos -, na qual o futebol paranaense acabaria herdando uma trágica característica na dupla AtleTiba: a de comemorar o fracasso alheio, nivelando por baixo…


  1. 7
    Carlo Ramirez:

    Ola Luiz.
    Eu me lembro principalmente de duas coisas:
    A primeira coisa q me lembro foi a revista Placar. Q dava maior enfase ao bangu do que ao titulo do COxa. Me deu a imressao q a revista ja estava pronta, dando o titulo ao Bangu. O fato de ter apenas um jogo e no Rio de Janeiro ja mostrava a tendencia da torcida pelo time carioca.
    A segunda coisa foi q eu morava no interior do Parana, em Arapongas e não vi nenhum tipo de repercusao por parte das pessoas e da midia especializada no norte do Paraná. Ou seja , a influencia da midia paulista sempre muito forte por la, e esta minimizou a nossa conquista .
    E eu insisto: A midia carioca e paulista(globo), prepara um pacote para comercializar com os telespectadores. Nele estão os jogos do Paulistas, cariocas e talvez os mineiros e gauchos. Os programs de tv( do sportv e da espn) so divulgam estas marcas.Os outros , fora desta geopolitica, ficam com as sobras…2 e 3 divisão…
    E so ver a repercusão dos problemas do dia 06/12…

    Acho q precisamos melhorar a midia paranaense, com urgencia. Outro exemplo, qto a tv paranaense paga pelo nosso campeonato? Deve ser uma mixaria….Nossa imprensa, deve ser qualificada com profissionais de qualidades, por q os atuais ( do sportv) são fraquissimos. Qdo vejo o jogo do coxa, tenho q desligar o audio e ligar alguma rádio…
    abraço

    ***

    Professor, que bom que eu não vivia numa bolha, achando que estava só num mundo onde um título como aquele passou despercebido. Muito triste isto. Os reflexos atuais são frutos de ações no passado. E o futuro, como será? Pra mim, com base nas ações de agora, só vai piorar…

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