terça-feira, 1 de junho de 2010

Entrevista com Tostão

Tostão diz ver exagero em ufanismo de Dunga e teme falta de improviso

Alexandre Sinato e Bruno Freitas

Em Johanesburgo (África do Sul)

  • Campeão mundial com o Brasil em 1970, Tostão parte para a quinta Copa como comentarista

    Campeão mundial com o Brasil em 1970, Tostão parte para a quinta Copa como comentarista

Um antigo campeão do mundo caminha no hotel que hospeda a seleção brasileira em Johanesburgo, a poucos dias da Copa. Em seu sétimo Mundial, o quinto como comentarista, Tostão tem seguido de perto a rotina dos homens de Dunga na África do Sul e mantém intacta a análise dos últimos meses sobre virtudes e fraquezas da equipe nacional para o torneio.

Em entrevista ao UOL Esporte na última segunda-feira, o ex-jogador manifestou opiniões sobre o time de Dunga, algumas delas já reproduzidas em suas colunas na Folha de S. Paulo. Para o camisa 9 da lendária seleção de 70, a filosofia nacionalista do atual treinador frequentemente cai no exagero e pode ter suas consequências.

O ídolo do Cruzeiro ainda faz elogios à equipe, em palavras de confiança que recaem principalmente sobre os homens de defesa, mas diz que teme a ausência do fator improviso em instantes decisivos na Copa.

Confira abaixo a breve entrevista de Tostão ao UOL Esporte em Johanesburgo, base da preparação da seleção brasileira para a Copa do Mundo.

UOL Esporte: Nas suas colunas mais recentes, você tratou dos conceitos de garra e discurso de nacionalismo usados por Dunga, inclusive em campanhas publicitárias. Como vê este tipo de sentimento difundido na seleção nacional?
Tostão: É um discurso ufanista, muitas vezes exagerado, é ultrapassado. Mas a verdade é que os jogadores recebem muito bem isso, este discurso de união, gostam disso. O lado ruim é que cria-se um sentimento de guerra, de que o título é a coisa que mais importante do mundo, tudo o que importa. Cria-se uma imagem que, se perder, é porque não teve raça. Não acho um sentimento saudável.

UOL Esporte: Você acha que estes tipos de valores podem se sobrepor à imagem consagrada do futebol brasileiro, de beleza plástica e improviso individual?
Tostão: Não. Não podemos dizer que o Dunga é o responsável pela mudança de estilo da seleção brasileira. Isso é algo que já vem acontecendo há muito tempo no nosso futebol.

UOL Esporte: O que você mais gosta na atual seleção de Dunga?
Tostão: A maioria dos jogadores da seleção é de primeiro nível internacional, desde o goleiro, o lateral-direito, a dupla de zagueiros. Também o Kaká e o Robinho. Individualmente, o time é muito bom. Não tem um meio-campo muito forte. O lado positivo é que este time está pronto. Algumas seleções chegam a este ponto ainda trocando peças. Mas nós temos uma maneira de jogar, goste-se ou não. E isso pode ser decisivo num torneio curto.

UOL Esporte: E o que menos gosta no time?
Tostão: Ao mesmo tempo, os grandes times se formam por acaso. O Dunga é o contrário disso, trabalha com tudo previsto desde a véspera. Mas essa rigidez pode atrapalhar. Às vezes num momento decisivo você precisa do improviso, daquilo que acontece de repente. Não vejo isso acontecendo neste time.

UOL Esporte: Você parte para a quinta Copa na função de comentarista. Como é a rotina de um comentarista na Copa?
Tostão: Procuro ver os treinos, as entrevistas coletivas. Procuro também tomar conhecimento das ideias que estão sendo colocadas. Basicamente é isso.

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