sexta-feira, 15 de março de 2013

Literatura na arquibancada

Entrevista reailizada pelo site :http://www.literaturanaarquibancada.com/2011/10/para-entender-o-fenomeno-futebol.html

Para entender o fenômeno futebol

Maurício Murad

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Ele é um dos mais respeitados estudiosos sobre o futebol brasileiro. Há 20 anos, Mauricio Murad coordena o Núcleo de Sociologia do Futebol na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Nesta longa trajetória, foram desenvolvidas pesquisas e estudos fundamentais para entendermos melhor o futebol como um fenômeno social. Neste bate papo com o Liteteratura na Arquibancada, Murad revela sua nova paixão literária, com a produção de alguns romances.

Literatura na Arquibancada:

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Um de seus livros, A violência e o futebol - dos estudos clássicos aos dias de hoje, traça um panorama da relação histórica entre violência e futebol. O que mudou neste tema desde o fim de suas pesquisas para este livro? Quais evoluções ocorreram em termos de segurança nos estádios?

Maurício Murad:

Pouca coisa mudou. O Estatuto de Defesa do Torcedor, embora incompleto, foi um avanço, como também a segurançadentro dos estádios. Contudo, a infiltração de grupos de vândalos, as agressões violentíssimas, as mortes e o uso das redes sociais para a marcação dos confrontos, sem a atuação prévia da polícia, permanecem quase que inalteradas e pior, em escala crescente.

L.A:

O que está sendo feito em termos de estudos acadêmicos sobre os dois maiores eventos esportivos do planeta que acontecerão por aqui, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos? Quais estudos internacionais recomenda para estudiosos e autoridades públicas brasileiras?

M.M:

Vários estudos estão sendo feitos no Brasil, sobre o Mundial de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Acredito, que a partir de agora, com o calendário definido, esses estudos ganharão mais visibilidade e outros virão. Os estudos realizados na Alemanha, para a Copa de 2006, por universidades e por organismos públicos, principalmente em relação ao legado do evento, são a meu juízo as melhores referências.

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L.A:

Quais foram os principais estudos e pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de Sociologia do Futebol da Uerj desde o seu surgimento em 1990?

M.M:

Começamos com a pesquisa sobre Violência e Futebol no Brasil, inclusive fazendo parcerias com o GEPE, Grupamento Especializado de Policiamento dos Estádios, da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Futebol e Artes no Brasil: Cinema, Música e Literatura, Racismo no Futebol Brasileiro e os Olhares Femininos no Futebol, são exemplos de outros estudos realizados pelo Núcleo de Sociologia do Futebol, do Departamento de Ciências Sociais da Uerj, em seu início.

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L.A:

Você escreveu um romance infanto-juvenil, em 1994, Todo esse lance que rola, onde explora a história social do futebol brasileiro, a partir do namoro entre dois jovens. O livro, inclusive, foi adaptado para o Teatro. Você acredita que o futebol poderia ser melhor utilizado como instrumento de educação e socialização?

M.M:

Sem dúvida! Acho que o futebol é uma poderosa linguagem, um instrumento riquíssimo, de educação para a cidadania, principalmente com crianças e jovens. Deveríamos aproveitar bem mais essa nossa cultura coletiva e identidade tão importante que é o futebol.

L.A:

Depois de se tornar referência por seus trabalhos de pesquisa científica no campo da sociologia dos esportes (especialmente do futebol), você também passou a escrever romances. Fale um pouco sobre os principais personagens de cada um deles e por que esta decisão de escrever ficção?

M.M:

Tenho três romances já publicados e um “no forno”. Gosto muito de escrever ficção, pela liberdade que dá ao autor e também porque, acho eu, que atinge a um número maior de pessoas. Dos três, só um trata de futebol: Todo esse lance que rola, uma história de namoro e futebol, premiado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e adaptado para o teatro, na versão de um musical. As fogosas aventuras de J. Ferreira e Os pés de Laura, são os outros. Este último, inclusive, eu considero como sendo a minha obra literária mais madura...Até agora.

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L.A:

Em seus romances, o futebol é tema de alguma forma?

M.M:

No primeiro, sim, é todo em torno do futebol. Os outros não, embora ambos tenham uns “pitacos” aqui e ali.

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L.A:

O que é futebol para você, um estudioso do esporte?

M.M:

Um esporte maravilhoso, cheio de toques artísticos e linguagens corporais. Além disso é uma das manifestações coletivas mais relevantes e democráticas de povos em diferentes sociedades, regimes políticos e sistemas culturais. Futebol é mais do que uma modalidade esportiva; é um grande e significativo evento das multidões.

L.A:

Quais as leituras obrigatórias de livros sobre futebol na literatura esportiva?

M.M:

É difícil fazer essa seleção, mas vamos lá. Os textos de Gilberto Freyre, como o prefácio ao Negro no futebol brasileiro, de Mário Filho. Este, também, um livro indispensável. As crônicas de Nelson Rodrigues, de Mário Filho, de João Saldanha e de Armando Nogueira, também acho que são fundamentais. O universo do futebol, organizado por Roberto da Matta e outros mais.

L.A:

Por que grandes nomes da literatura brasileira não escrevem mais sobre futebol, como no passado (José Lins do Rego, Nelson Rodrigues, e outros)?

M.M:

Essa é uma grande questão a ser estudada, porque praticamente todos os grandes autores de nossa riquíssima literatura eram muito ligados ao futebol e, no entanto, quase não há textos sobre o assunto. Romances, a bem da verdade, porque contos e crônicas há muitos e muitos exemplos. Poesia também, embora em menor escala. Acho que o preconceito, em torno do futebol, que marcou sua história social, pode ajudar a explicar um pouco. Mas, ainda precisamos aprofundar mais esse assunto. De uns anos pra cá (na última década) houve uma melhora, sem dúvida.

Posted 24th October 2011 by Literatura na Arquibancada

Labels: dicas leituras entrevistas perfil

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