sexta-feira, 22 de abril de 2011

Impasse sobre custo atrasa licitação para conclusão da Arena

Atlético, prefeitura e governo do estado se deparam com um novo problema: estádio ficou R$ 40 milhões mais caro. Ninguém quer arcar com a despesa

Publicado em 20/04/2011 | ANA LUZIA MIKOS, CARLOS EDUARDO VICELLI E KARLOS KOHLBACH

O dilema da realização da Copa de 2014 no Paraná ressusci­tou. Uma reu­nião na tarde de se­gunda-feira debateu, sem en­contrar solução, quem irá bancar o aumento nas obras da Arena. Novas exigências da Fifa e o aqueci­men­to no mer­cado da construção ci­vil te­riam ele­vado os custos de R$ 135 mi­lhões para cerca de R$ 175 mi­lhões. Um acréscimo de R$ 40 mi­l­hões que não se sabe de onde vi­­rá.

De um cofre ao menos o valor não vai sair: o rubro-negro. Foi o que garantiu o presidente do Atlé­­tico, Marcos Malucelli, no tenso encontro realizado no gabinete do governador Beto Richa. Esta­­vam presentes também os representantes do clube Gláucio Geara, Enio Fornea e Yara Eisenbach, o gestor da Copa em Curitiba Luiz de Car­­va­­lho, o secretário especial do Estado para a Copa, Mário Celso Cunha, e o prefeito Luciano Ducci.

Linha do tempo

Acompanhe, ano a ano, todos os detalhes da “novela” Arena:

2007 – “Duas opções”

O estado se dividiu em dois. Uma ala pleiteava a indicação da Arena como sede no Mundial. Outra parte ten­­tava levar os jogos para o Pi­­nhei­­rão. O orçamento inicial apon­­tava para a necessida­­de de investi­­mento de US$ 25 mi­­lhões na con­­clu­­são da Baixada. Já o novo Pinhei­­rão custaria cerca de US$ 100 milhões.

2008 – “Agora, vai”

Fechada questão em torno da Arena. Divulgado novo orçamento para a adequação do estádio: 135 milhões. Curitiba ganha da Fifa o direito de sediar o Mundial.

2009 – “Sem loucuras”

Marcos Malucelli assume a presi­­dên­­cia do Atlético e avisa que não cometerá loucuras para receber a Copa.

2010 – “Mão política”

Prefeitura de Curitiba e governo do Paraná entram em cena. Chegam a um acordo com o Atlético, dividindo o orçamento (R$ 135 milhões) em três partes iguais. A triangulação prevê ainda que a construtora indicada para fazer a obra poderá pegar emprestado, com juros baixos, R$ 90 milhões do poder estadual, via Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE). Como garantia, a empresa daria os papéis do potencial construtivo, originalmente emitidos pela administração municipal.

2011 – “Quem paga?”

Exigências da Fifa e a inflação elevam os custos da Arena para cerca de R$ 175 milhões. O Atlético só aceita investir R$ 45 milhões.

Infraestrutura

Paulo Bernardo cobra sintonia

Não são apenas as contas na Arena que subiram no Paraná. Em visita ao estado, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, falou sobre o acréscimo em algumas obras de infraestrutura previstas para o Mundial e cobrou mais sintonia entre o poder público. Prioridade, a reforma da Avenida das Torres teve um salto de 75% no orçamento. “Era R$ 80 milhões e vai custar mais R$ 60 milhões. Também há a perimetral que passa por Colombo, Araucária, Piraquara. O Ministério do Planejamento está exigindo uma canaleta. A obra passa de R$ 130 para R$ 650 milhões. É útil, mas não tem nada a ver com a Copa. Alguns projetos têm que sair agora. Falei para o [governador] Beto [Richa]: eu faço um lobby em Brasília e vocês têm que se entender aqui” , afirmou.

O ministro também falou sobre a demora nos preparativos para 2014. “Nós estamos apurados. Não vou dizer atrasado, senão amanhã é manchete dos jornais”, comentou. (ALM e KK)

A nova discussão adia o avanço nas obras, cujo prazo final estabelecido pelo poder público para a retomada é 1.º de junho, já que o processo de licitação via carta convite segue indefinido.

O dirigente atleticano apresentou uma correção nos valores, mas manteve a postura de não aumentar sua parcela proposta para a obra, transferindo ao poder público a responsabilidade.

“Só tenho uma palavra. Não vamos avançar no nosso orçamento. Nosso investimento segue o cálculo original de R$ 45 milhões. E nem será mais tudo isso. É me­­nos, pois já estamos pagando vá­­rios projetos como o hidráulico, elétrico, etc. Agora eles, o Ippuc [Ins­­­­tituto de Pesquisa Pla­­ne­­ja­­mento Urbano de Curitiba], farão a apuração deles sobre os valores e aguardamos uma nova reunião”, afirmou o presidente, sem confirmar o novo montante necessário.

O impasse ressurge após uma longa e desgastante discussão para definir o rateio da obra. O custo apresentado em 2009 era de R$ 135 milhões, sendo R$ 45 milhões assumidos pelo Atlético. O poder público então recorreu a uma en­­genharia financeira para garantir o aporte de R$ 90 milhões – R$ 45 milhões do governo e R$ 45 milhões da prefeitura – via potencial construtivo.

Com os R$ 40 milhões a mais, a conta não fecha e a prefeitura já teria sinalizado que o mesmo me­­ca­­nismo não poderia ser usado para reforçar os custos.

O aumento decorre de duas si­­tua­­ções. A primeira seria o acréscimo no valor da construção civil de 28% o metro quadrado nos últimos três anos – de R$ 714,79 o m² a 918,54 o m²–em Curitiba, segundo o Sindicato da Indústria da Cons­­trução Civil no Paraná.

Para completar, a Fifa fez novas exigências aos estádios, como a instalação de mais apa­relhos de ar condicionados, a tro­ca de todas as cadeiras, ves­tiários para o mascote do evento, en­tre outros. “O Ippuc vai estudar e deve encontrar o que pode ser su­­pér­fluo e cortar do projeto”, se­guiu Ma­lucelli.

Enquanto o novo estudo não for feito, o gestor da Copa em Curi­­tiba, Luiz de Carvalho, disse ser prematuro anunciar valores e quem irá arcar com o excedente. A indefinição resgatou nos bastidores a dúvida sobre a realização dos jogos no reduto atleticano. “Não acredito. Mas, se quiserem tirar [da Arena], podem tirar. Não colocaram nenhum centavo lá ainda”, disse Malucelli.

Aeroportos

O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) desqualificou ontem estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), órgão ligado ao governo, que apontou que as obras em nove dos 14 aeroportos de sedes da Copa 2014 não ficarão prontas até o evento. Carvalho disse que a pesquisa foi assinada por um pesquisador que não representa a voz oficial do instituto e foi realizada em cima de recortes de jornais. O ministro afirmou ainda que “não há desespero”, mas a preocupação natural do governo com a conclusão das obras.

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Interatividade:

O que você acha da postura atleticana de não assumir o ônus extra com a adequação da Arena para a Copa?

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